A NATURALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA NO CONTO “O JOGO DO MORTO”, DE RUBEM FONSECA

Ian Maximiano Anderson (UFMG)

Resumo


Neste artigo, intenta-se discutir a naturalização da violência na sociedade brasileira por meio do conto “O Jogo do Morto”, de Rubem Fonseca. O conto foi publicado no corpo do livro O cobrador, de 1979. Aponta-se inicialmente para uma crítica que assinala o caráter violento da narrativa de Rubem Fonseca, uma "escrita da violência", Lafetá (2000); uma “narrativa brutalista", Alfredo Bosi (2005). Elementos que permitem falar de uma “poética da violência”, uma narrativa que rompe com os códigos burgueses realistas de significação, constrói um “transrealismo” para Schøllhammer (2000). A violência, a pobreza e o espaço urbano ganham notoriedade. No segundo momento, discute-se a naturalização da violência a partir da sua constituição como prática lúdica, isto é, um jogo de apostas em “O Jogo do Morto”. Analisamos as distintas formas de violência que atravessam o conto, seja a violência da banalidade do mal e da vida, da naturalização da violência no corpo negro, até a violência da prática institucional, que produz a naturalização e as outras formas de violência, entendendo a partir de Walter Benjamin (2019) que violência e poder estão conjugados e instituem uma ordem de direito.


Palavras-chave


Violência; Jogo; Fonseca; Naturalização

Texto completo:

PDF

Referências


ABDALA JR, Benjamin. Contos brasileiros. São Paulo: Scipione, 1994.

ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. Trad. José Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

BENJAMIN, Walter. Crítica da violência: crítica do poder. Trad. Willi Bolle. Revista Espaço Acadêmico, 2 (21). Disponível em: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/46277. Acesso: 3 de julho de 2019. p.1-7.

CORDEIRO, Janaína Martins. A ditadura em tempos de milagre: comemorações, orgulho e consentimento. Rio de Janeiro: FGV, 2015.

BOSI, Alfredo. “Situação e forma do conto brasileiro contemporâneo”. In: __________ (org.). O conto brasileiro contemporâneo. 16 ed. São Paulo: Cultrix, 2005. p.7-24

DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Trad. Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.

FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala: formação da família brasileira sob o regime de economia patriarcal. 51 ed. São Paulo: Global, 2006.

FONSECA, Rubem. O cobrador. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

GINZBURG, Jaime. Crítica em tempos de violência. 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, Fapesp, 2017.

HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. 27. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.

LAFETÁ, João Luiz. Rubem Fonseca: do lirismo à violência. In: Literatura e sociedade. Depto. de Teoria Literária e Literatura Comparada da USP. FFLCH, n.5. São Paulo, 2000. p. 120-134.

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Tradução Reginaldo Sant’Anna. 13. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989. Livro 1, v. 1 e 2.

SCHØLLHAMMER, Karl Erik. Os cenários urbanos da violência na literatura brasileira. In: PEREIRA, Carlos Alberto et al. Linguagens da Violência. Rio de Janeiro: Rocco, 2000. p.236-259.

SCHNAIDERMAN, Boris. Vozes de barbárie, vozes de cultura. Uma leitura dos contos de Rubem Fonseca. Literatura e Sociedade, 2018, 23(26), 162-166.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloísa Murgel. Brasil: uma biografia. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

TAVARES, Gonçalo. Jerusalém. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.


Apontamentos

  • Não há apontamentos.



ISSN  1807-9717


Indexado em:

                                        Capes    Latindex     Pkp     Ibict     Sumarios
     
 
                                                     DOAJ      LivRe           Dialnet
   
                               EBSCO     Funadesp      
                               Harvester