“Que canto há de cantar o indefinível?”: a imagem surrealista e a lírica corporificada de Hilda Hilst
Resumo
Neste artigo discutiremos a especificidade do conceito de imagem surrealista como recorte para leitura da obra lírica da poeta Hilda Hilst, particularmente das obras publicadas entre 1986 e 1992 – Amavisse, Via espessa e Via vazia, reeditadas em Do Desejo em 2004. Argumentamos que sua poesia, qualificada como hermética, sofisticada principalmente no que tange à preciosidade vocabular, é, precisamente por isto, extremamente corpórea/encarnada: a imagem como aproximação de realidades distintas a tecer este conhecimento/saber preciso. Podemos dizer que a proposta surrealista – de explorar o outro continente humano, simbolizado pela loucura, pelo sonho, enfim, pelos estados não-racionais –, ao voltar-se para este outro tipo de pensamento, não lógico, mas ana-lógico, propunha superar a cisão entre o real e o imaginário. Este espaço síntese / entre-lugar, precário e temporário, torna-se possível por meio da arte, da poesia, cristalizado em uma repentina imagem bem-sucedida: “entre a luz e o sem-nome”. Em outras palavras, esta é a condição primeira da imagem, de mediação, que a linguagem ocupa em relação ao sensível, à experiência como conhecimento/saber, condição esta que constitui o fundamento sobre o qual a literatura em geral, e a poesia em particular, tece-se e se faz carne/verbo, via imagem.
Palavras-chave
Hilda Hilst; Imagem; Corporificação; Surrealismo.
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ISSN: 1807-8591
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